domingo, 6 de julio de 2008

Um conto

http://www.myspace.com/luizbucolico
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Simples como respirar.

Era como respirar.. e eu mesmo me gritava “Respira!! Respira!” – e entao eu respirava... era tudo e sendo tudo era como nada. Era branco, mas nao branco marfim, nem branco gelo, nem outros centenarios de adjetivos que as pessoas se dao a liberdade de oferecer ao pobre do branco, era puro.. era branco.. e eu me assustava pela pureza de tal branco... pq era um branco verdadeiro. E eu gritava “respira! Respira ! “ e entao eu respirava ... respirava ... e era isso, o branco ficava mais branco, tudo mais embaçado, eu mais perdido e quanto mais perdido ficava mais forte gritava: “respira! Respira! “
Eu me lembro de ter tido uma sensacao assim quando era mais jovem, ha alguns anos atras, era como um dia de verao intenso... mas para ser justo comigo mesmo, nao estou lembrado se dito fato era real ou mera imaginaçao, alias nao sei nem se eu nada mais sonhava esse dia como havia sonhado antes, ou se era real o tal sonho, ou se minha existencia era esse tal sonho e todo o resto era simplesmente a tal dita realidade, uma noite mal durmida, um pensamento mal construido... mal pensado, mal contado ? Quem sabe? Mas nessa exata ocasiao eu ouvia um zumbido, agudo como um violino desafinado... era uma melodia um tanto quanto afavel... com um sopro ecoando inumeraveis vezes, repetindo-se, voltando-se, embriagando-me com esse respiro penetrante e hipnotizador... era musica pros meus ouvidos talvez, ou era como se fosse. E entao eu comecei aos poucos a tomar conciencia, abri os olhos os esfreguei com as maos, coms os dedos largos e solitarios. Entao fiz esforço para levantarme. Me apoiava no branco vertiginoso sem tons ou matizes, era somente ele e eu.. eu e ele.. e claro o zumbido no fundo que tomava força com cada passo que dava no luminoso e embaçado solo. Fui lentamente abrindo caminho entre o zumbido, do que diz respeito a mim, me parecia com minha respiraçao... cada passo por vez.. sem pressa, nao parecia haver tempo, de todas as maneiras, em tal lugar. Me apoiava cuidadosamente no nada e o nada, apoiado em mim, me conduzia pelo branco.. pelo zumbido... pela respiraçao. Caminhava... lentamente... era como flutuar antes de durmir, ou algo parecido a isso. O branco, cada vez mais branco ficava... e de tao branco parecia como se fora luminoso, resplandecente, como olhos na madrugada selvagem... talvez isso fosse, olhos e nada mais. A respiraçao parecia aumentar à cada passo, mais ofegante... mais rasa, mais misteriosa e sombria. E eu me sentia encolher, ou quem sabe era o nada que crescia e me envolvia cada vez mais, me abraçava o nada.. o branco.. a luz... e mais passos eu dava, com menos medo, de certo que sim. Entao o zumbido, a respiraçao... aumentavam, e no fundo, quase como um grito silencioso, emanava das entranhas de tal dito e repetido branco, um grito audaz, transcendente: “ Respira! Respira!”
E eu como sempre respirava.. ao menos assim acreditava... e entao derrepente eu senti meu corpo tao leve quanto uma pluma numa ventania arrebatadora... flutuando livremente pelo branco majestoso que reinava juntamente com a respiracao que de pronto se faz grave e que dizia repetidamente sem cessar “Respira! Respira!” e entao, novamente, eu respirava... e respirava.

Luiz

http://www.myspace.com/luizbucolico
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1 comentario:

Renata Fonseca dijo...

Nossa, Lui. Que conto agoniante.
Muito belo, mas sei lá, meio áspero e, ainda assim, sutil.
Amei.