sábado, 19 de julio de 2008

Poemas


Clara

Clareou o dia, Clara.
Com sua face nua.
Clarearam os olhos, Clara.
com sua vista crua.

Clarearam as aguas claras,
e mais claras ficaram
e algo mais caras
claro, também se tornaram.

E mais caras surgiram
Nas noites já claras.
Porém Clara, eles nao a conhececiam.
Moeda velha de duas caras.

Quando na confusao, Clara,
a noite ficou um tanto escura.
E já nâo se enxergava a cara,
que de tâo cara já nos parecia dura.

E entao claro,
clareou a noite e fez-se dia,
e já nao eram caras nem carros,
era Clara, que clareando, para casa se ia.


Quando chegam os teus olhos vadios, cheio de mentiras,
Eu me embriago na sensacao de tuas cores e de teus abraços.
E as peles se roçam como se no fundo nao ouvessem iras,
E teus braços me rodeiam e meus braços ti rodeiam, como em dois laços.

E nesse calor chega teu beijo ... e vem tua lingua fria
Serpenteando dentro da minha boca um tanto quanto molhada.
E minha lingua, cansada, busca o fogo da tua, com aspera agonia.
E quando enfim encontra acontece tudo e nao acontece nada.

Depois vem tua mao descendo sobre meu fragil peito,
E tuas unhas me arranham, como alguem que quer mais que o prazer.
E se multiplica em milhoes enquanto desce por esse caminho estreito
E aperta meus ossos doloridos, me sufocando entao, com medo de me perder.

E nesse medo eu volto pros seus olhos que ja estao agora molhados,
Passo minha lingua fervendo nos teus labios de saliva querendo derramar.
Me invade a sensaçao de teu mel calido em marê de corpos ilhados.
E entao finalmente me perco em teus olhos ... e me volto a encontrar.


O gosto doce da fumaça

Fumaça beije a boca, beije o teto.
Volte ao pulmâo , volteie o ventre, desvire o feto.
Beije o espelho se aclare lento quando eu chegue perto.
Entâo beije os olhos e tudo o que ti pareça incerto.

Fumaça beije as paredes que nâo posso reclamar.
Pois, tâo finas sâo que qualquer um atento, poderia escutar
os meus lamentos e maldizeres que canto ao rezar.
Fumaça beije o peito vazio e desnudo, pois ele quer ti beijar.

Fumaça beije o tapete e o papél.
Beije as estantes, as estatuas, os livros de saberes ao léu.
Toque meu rosto em minhas marcas, deixando-me o sabor doce do mel.
Envolva-me em tua glória e deixe esconder-me detrás do teu vél.


Continua nublado

faz frio hj ...
aqui faz frio todos os dias.
o queimar do tempo,
a vida na escuridao,
a tristeza em dias cinzas.
o dia se perdura...
movimentos sem circulares...
pinturas sem cor
ruas asfaltadas,
luas pelo chao.
ja nem sei quem sou
e nao lembro quem fui...
o resto sei q estara sempre no amanha
por hj ...aqui ....continua nublado.



jueves, 17 de julio de 2008

Poema - Eu seguirei vivendo

Eu seguirei vivendo

Talvez me trague a terra seca com suas grandes bocas
De oliva, com seus dentes afiados de serpentes ocas.
Talvez me trague incoerente, as noites de estrelas respingadas.
No deserto da escuridao, num lápso de memorias adiadas.
Nao importa, eu seguirei vivendo.

Talvez me trague o cansaço e o misterio do deserto,
Árido e imaculado que os deuses observam de perto.
Talvez me trague o vazio e a ausencia divina de vida
No espaço que sou, no silencio da palavra perdida.
Nao importa, eu seguirei vivendo.

Talvez me trague o sol quente com seu olho aberto,
Platonico Com sua beleza atraente... audaz e incerto.
Talvez me trague minhas proprias maos sedentas
Que ti seguram, pois ao partir.. minhas maos sustentas.
Nao importa, eu seguirei vivendo.

Talvez me trague teus beijos, teus labios macios
De avelâ, de gosto inconfundivel de ciprestes e lírios.
Talvez me trague tua ausencia como um bravo mar
E ainda que desnivelem meu coraçao ao me aquebrantar...
Nao importa, eu seguirei vivendo.

Luiz.

domingo, 6 de julio de 2008

Um conto

http://www.myspace.com/luizbucolico
http://www.myspace.com/luizbucolico

Simples como respirar.

Era como respirar.. e eu mesmo me gritava “Respira!! Respira!” – e entao eu respirava... era tudo e sendo tudo era como nada. Era branco, mas nao branco marfim, nem branco gelo, nem outros centenarios de adjetivos que as pessoas se dao a liberdade de oferecer ao pobre do branco, era puro.. era branco.. e eu me assustava pela pureza de tal branco... pq era um branco verdadeiro. E eu gritava “respira! Respira ! “ e entao eu respirava ... respirava ... e era isso, o branco ficava mais branco, tudo mais embaçado, eu mais perdido e quanto mais perdido ficava mais forte gritava: “respira! Respira! “
Eu me lembro de ter tido uma sensacao assim quando era mais jovem, ha alguns anos atras, era como um dia de verao intenso... mas para ser justo comigo mesmo, nao estou lembrado se dito fato era real ou mera imaginaçao, alias nao sei nem se eu nada mais sonhava esse dia como havia sonhado antes, ou se era real o tal sonho, ou se minha existencia era esse tal sonho e todo o resto era simplesmente a tal dita realidade, uma noite mal durmida, um pensamento mal construido... mal pensado, mal contado ? Quem sabe? Mas nessa exata ocasiao eu ouvia um zumbido, agudo como um violino desafinado... era uma melodia um tanto quanto afavel... com um sopro ecoando inumeraveis vezes, repetindo-se, voltando-se, embriagando-me com esse respiro penetrante e hipnotizador... era musica pros meus ouvidos talvez, ou era como se fosse. E entao eu comecei aos poucos a tomar conciencia, abri os olhos os esfreguei com as maos, coms os dedos largos e solitarios. Entao fiz esforço para levantarme. Me apoiava no branco vertiginoso sem tons ou matizes, era somente ele e eu.. eu e ele.. e claro o zumbido no fundo que tomava força com cada passo que dava no luminoso e embaçado solo. Fui lentamente abrindo caminho entre o zumbido, do que diz respeito a mim, me parecia com minha respiraçao... cada passo por vez.. sem pressa, nao parecia haver tempo, de todas as maneiras, em tal lugar. Me apoiava cuidadosamente no nada e o nada, apoiado em mim, me conduzia pelo branco.. pelo zumbido... pela respiraçao. Caminhava... lentamente... era como flutuar antes de durmir, ou algo parecido a isso. O branco, cada vez mais branco ficava... e de tao branco parecia como se fora luminoso, resplandecente, como olhos na madrugada selvagem... talvez isso fosse, olhos e nada mais. A respiraçao parecia aumentar à cada passo, mais ofegante... mais rasa, mais misteriosa e sombria. E eu me sentia encolher, ou quem sabe era o nada que crescia e me envolvia cada vez mais, me abraçava o nada.. o branco.. a luz... e mais passos eu dava, com menos medo, de certo que sim. Entao o zumbido, a respiraçao... aumentavam, e no fundo, quase como um grito silencioso, emanava das entranhas de tal dito e repetido branco, um grito audaz, transcendente: “ Respira! Respira!”
E eu como sempre respirava.. ao menos assim acreditava... e entao derrepente eu senti meu corpo tao leve quanto uma pluma numa ventania arrebatadora... flutuando livremente pelo branco majestoso que reinava juntamente com a respiracao que de pronto se faz grave e que dizia repetidamente sem cessar “Respira! Respira!” e entao, novamente, eu respirava... e respirava.

Luiz

http://www.myspace.com/luizbucolico
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